Ruas

- Eles são a prova? - Soou quase que como uma afirmação. Raios, porque é que eu acreditava nela?!
Baixei o olhar e comecei a apertar as mãos, era um tique. - Sou arrogante, já nada vai mudar. Fim do assunto - Disse-o ainda cabisbaixo, num tom de voz abatido.

- É são. - falei enquanto me fixava na foto. Apesar de antiga e bastante gasta, notava-se parte da fotografia. Olhei-o pelo canto do olho. - Tu acreditas em mim.. - Afirmei, começando por balançar o meu corpo, da esquerda para a direita e assim sucessivamente. - Claro que vai mudar. Eu vou mudar isso.. - ri-me. - Nem que demore uma eternidade.

Pior ainda era ela perceber que acreditava. Não valia a pena contrariá-la sendo que era verdade por isso apenas suspirei, nada agradado.
- Vais mudar? Acredita quando te digo que, quanto mais forem os anos, piores vocês ficam... - E sabia-o por experiência própria. Mais arrogantes do que eu só mesmo vampiros velhos.

Spoiler:

- Blábláblá. - fiz uma careta ao mesmo tempo que abanava a cabeça, com um ar bastante estúpido. - Estava a falar de mudar a tua arrogância. - ri-me. - Mas, agora que falas dos da minha espécie, bem, eu não fico pior..eu fico ainda mais perfeita! - falei num tom bastante convencido. É eu acreditava mesmo naquilo!

Spoiler:

- Eu percebi, mas tu também consegues ser arrogante - Não tanto como eu, e não queria de maneira nenhum insulta-la mas estava só a constatar um facto - Sim, mais perfeita... por favor!

- Nem muito! Mais arrogante consegues ser tu. - empinei o nariz e cruzei os braços ao peito. Levantei-me, limpando as calças e fui até a um quiosque comprar um jornal. Quando de lá voltei, sentei-me no mesmo lugar e dei-lhe com o jornal no ombro. - Eu sou perfeita ok?!

- Sim, muito mais mas não interessa - Disse desinteressado. Não sei porque que quando ela se levantou, não fiz o mesmo e fui-me embora. Subitamente ela pôs-me a pensar na vida, no futuro e eu tentava ao máximo não pensar nisso. Entretanto ela já voltara - Fisionomia de vampira é perfeita, mas isso não faz de ti perfeita - Comentei, num sentido divertido - Todos temos falhas - Alguns com muitas, pensei eu.

- Interessa sim! - contrariei as suas palavras e voltei a dar-lhe com o jornal. - Oh, oh, oh... acho bem que admitas que eu sou perfeita, se não queres que eu te espanque.. à dedada!! - fiz uma careta enquanto lhe mostrava o meu dedo. - Claro que temos. E essas falhas, por vezes é que nos tornam especiais.

Não entendia porquê que ela estava alegre, ou pelo menos parecia - Podes parar com o jornal? - Perguntei, já farto de levar com aquilo. - Não vou admitir nada está bem? - Resmunguei, sentindo-me subitamente cansado - Não percebo, está aí toda animada mesmo sabendo que me apetece aniquilar todos os da tua espécie. - Abanei a cabeça.

Afastei o jornal dele, colocando-o no meu lado, pousado no banco. Quando ouvi as suas palavras, não evitei em gargalhar. É, eu estava alegre. - Todos?! Até eu?! - fingi-me de admirada. - Bem, se tu me quisesses fazer mal, não já tinhas feito?!

Pensei que todos não. Nunca incluiria a minha irmã - Sim, ou pelo menos a maior parte. Já vi muita coisa e a pior de todas foram os vampiros - Admiti - Também estou admirado. Mas eu não sou mau, pelo menos sem razão.

- É, nós quando queremos, conseguimos ser bastante horríveis e cruéis. - admiti. Sabia perfeitamente o que um vampiro era capaz de fazer, não por ser uma, mas sim por já ter assistido a isso. - Uiii... o menino não é mau. - gozei. - Há quanto tempo és caçador? - perguntei, mudando de assunto.

- E eu mato os que vejo fazerem isso, ou os de quem tenha contacto. Mas basicamente odeio-vos a todos - Não disse aquilo com ódio mas sim com genuína verdade - Não sou mau não. Aliás, só tento fazer o bem - para os da minha espécie, pensei. - Sou caçador desde os meus 15 anos, mas já sei sobre vós à muito mais do que isso.

Cheguei-me um pouco mais perto dele e olhei-o bem nos olhos. - E para ti, o que é o bem? - perguntei. Depois algum silêncio da minha parte, estendi-lhe a mão. Ok, eu nestes dias andava muito bem disposta e muito estranha! - Começaste novinho.. - comentei - Olá eu sou a Leah Schlüter e tu?

Era uma questão interessante na verdade - O bem para mim é deixar que as pessoas, os humanos, não sejam meros recipientes de sangue para os vampiros. Ninguém deve morrer para ser alimento de outrém - E depois havia a questão de não querer que ninguém sofresse o mesmo que eu sofresse - Para mim o bem é deixar as pessoas humanas viverem em paz e segurança - Pensei se devia apresentar-me. Porque não? - Prazer . (?) Leah, sou o Ash.

- Só falas em humanos. - cruzei os braços ao peito. - O bem devia ser para todos os seres vivos, não somente para os humanos. - Depois ri-me quando ele se apresentou. Tinha-me passado tanta porcaria pela cabeça. - Ash.. o teu nome é estranho. - provoquei.

- Normal, sou humano - Pensei numa piada seca, que costumava ser muito conhecida entre os caçadores - Na verdade vocês são seres mortos tecnicamente. E se matam para sobreviver, então matem animais. - Abanei a cabeça, rindo-me - Sim, um nome que significa cinzas é estranho, mas o mais irónico nisto tudo é que o meu apelido é Hunter.

- Eu sou vampira e mesmo assim, defendo todos o seres vivos. - abanei a cabeça negativamente. - Uau.. Hunter... bem.. isso torna-se mesmo muito esquisito. - fiz uma careta. - Porque é que te interessaste tanto em ser caçador?

- Sim, mas deves ser uma em um milhão - Adverti - Eu sei, nem deves imaginar a quantidade de caçadores que achavam que eu inventei o meu apelido. Eram imensos - E sorri, ao relembrar-me dos meus colegas. Mas mal ouvi a sua pergunta esse sorriso dissipou-se. Não ia mesmo confidenciar a minha verdadeira razão a uma vampira, pois não? - Faço-o porque sou das poucas pessoas que sabem o verdadeiro perigo que a vossa espécie implica.

- Sabes o que te digo? - abri o jornal e olhei para as pequenas letras de cada página. - És mesmo mentiroso! - conclui num tom de brincadeira. Fechei o jornal e levantei-me. Acabei por pegar na sua mão e puxá-lo. - Quero ir dar um passeio e não aceito essa tua arrogância e mau humor para o meu lado, portanto é bom que digas que vens comigo!

Ainda estava para decidir se a teimosia e persistência dela me agradavam, ou não - Preferia que fosses uma vampira má e sugadora de sangue, ao menos assim não me chateavas por muito tempo - Gozei, e levantei-me. Ela apanhara-me num dai de bom humor, era essa a sorte.

Agarrei-me ao braço dele e sorri contente. - Não preferias nada. - contrariei as suas palavras de um modo risonho. - Tu podes não admitir, mas aposto que lá no fundo dos teus fundos, bem lá nos fundinhos, tu até gostas que eu te chateie. - ri-me estupidamente.
Foi apenas uma questão de minutos até sair-mos dali e ir-mos para outro lugar qualquer.

Spoiler:

Saí de um cabeleireiro qualquer de bairro e pintei o cabelo de castanho, e fui andando pelas ruas á procura de diversão. Encontrei um humano que me tinha pedido umas direções e eu indiquei-as. Fiz com que ele ficasse à vontade e quando achei que era o momento certo mordi-o, e começei a beber o seu sangue. Desde que tinha chegado a Lore ainda não tinha bebido sangue humano; a sede apertava e tive de fazer algo. « Só espero que ninguém apareça... » Pensei para mim, enquanto lhe sugava o sangue.

ava certo de seguir caminho directo para casa. Afinal de contas deixara lá Ashley e não fazia ideia se ela precisava de alguma coisa. E para além disso que queria passar mais tempo com ela, conhecer a minha irmã.
Mas uma vez caçador, para sempre caçador. Não resisti em dar mais umas voltas por Lore, na minha habitual ronda. No interior da cidade estava tudo normal por isso iniciei o caminho pelas redondezas. Estava tudo normal até conseguir distinguir duas silhuetas, ao longe. Aproximei-me intrigado e ao chegar lá deparei-me com a visão que eu menos queria ver. Ashley, a minha própria irmã a alimentar-se de um humano! Fiquei desorientado e sem saber o que fazer. Não podia ataca-la, não conseguia. Só tive tempo de proferir um grito:
- Ashley!

Ouvi uma voz familiar e quando dei por mim isso era o Ash. Larguei cuidadosamente o humano, que ainda estava vivo, conseguia ouvir as suas pulsações. Fechei os meus olhos e deixei que as minhas presas subissem, para ir ter com o Ash. Engoli em seco e olhei-o.
- Desculpa... - Murmurei, não sabia o que fazer.