Ruas

-Eu não me irrito com pouco - rosnei - Apenas não gosto da maneira como falas comigo vampirinho - sorri cinicamente e ajeitei o meu casaco virando-me para Meg - Por mim chega, não estou para ficar a ouvir este parvalhão falar - deitei-lhe um olhar de desprezo - Vens ou ficas? - perguntei desta vez olhando para ela.

-Estamos quites, porque eu também não gosto da maneira como falas comigo. - revirei os olhos ao vê-lo a armar-se em bom e cerrei os dentes com o que ele me chamou. Aproximei-me dele empurrando-o - nunca te ensinaram a ter respeito pelos mais velhos? - Perguntei irritado com aquele tipo. Só não o matava porque Meg estava ali a ver-nos e devia ter alguma relação com ele.

Virei-me para ele cada vez mais irritado - Eu respeito as pessoas quando elas me respeitam a mim - disse bruscamente - E aliás tu nem és considerado uma pessoa - virei-lhe as costas e voltei a olhar para Meg à espera da resposta dela.

-Oh, desculpa relembrar-te que tu também não és considerado pessoa apesar de seres mortal - lembrei-o semicerrando os olhos e tentando controlar-me para não esmagar aqueles miolos inuteis

-Sim é melhor - olhei para o vampiro com um ar de nojo por ver a forma como ele olhava para o braço dela a escorrer sangue - Adeus Meg - dei-lhe um beijo na bochecha e saí dali não olhando mais para o vampiro pois corria o risco de lhe vomitar na cara.

Arregalei os olhos ao ver o que ela tinha feito e passado pouco tempo, como se eu tivesse perdido a noção de tudo, Harry, o lobisomem, tinha desaparecido da minha vista. Olhei para Meg e aproximei-me devagar.
-Porque é que estás a fazer isto? - Perguntei pegando no seu pulso e mordendo o lábio.

-E eu não te quero a furar no meio da rua, se passa um parvo como eu que não te conheça, mata-te sem pensar duas vezes - Resmunguei lambendo-lhe o sangue enquanto me controlava o máximo que podia. Deixei o seu braço cair com cuidado e respirei fundo. - Não te preocupes, eu não estava metido em confusões, ele é que estava, se não estivesses aqui, ele bem te pode agradecer.

Suspirei agarrando-a pela cintura e desaparendo dali não me importando com os humanos que nos viam - ou os que me conseguiam ver. Vi a valhalha ao longe e coloquei-a no chão encostada ao portão.
-Vou-me embora.

Quando cheguei a estas ruas, fiquei confuso, pois não sabia da existência delas. Enquanto conduzia, peguei no telemóvel para mandar uma mensagem a Emma, pois queria-me desculpar sobre o que tinha sucedido na minha casa. Quando me concentrei outra vez na estrada vi um vulto à frente do carro e travei imediamente. Saí a correr do carro para ver se a pessoa, que tinha atropelado, estava bem. Debrucei-me sobre o corpo desta - Você está bem? Precisa de alguma coisa? - disse enquanto abanava o corpo para ver se estava vivo, mas este não dava sinais de movimento. Liguei para o 112 e esperei que chegassem para poderem socorrer a pessoa que tinha morto. Os meus olhos já estavam inundados em lágrimas, e senti-me tonto, confuso e com raiva. Uma mistura de sentimento abrangia o meu corpo. Reparei que estava lua cheia e que cada vez que olhava para ela sentia-me mais forte. Aconteceu tudo tão depressa e acabei por me esquecer de Emma e de tudo o resto. Acompanhei tudo de perto e não deixei de pensar na hipótese de que poderiam salvar a pessoa cujo não sabia o nome. Fui até ao carro buscar os meus documentos e entretanto a policia chegou. - Bom dia, o que se passou aqui? - inquiriram eles com um ar sério. - Uh... Eu vinha a conduzir e olhei para o telemóvel...e quando vi... - disse ofegante e ainda em lágrimas. - Calma rapaz de certeza que não fizeste por querer. Mas agora precisamos dos teus documentos para tratarmos disto da melhor maneira possivel. - disseram. - Claro, claro... Aqui estão eles. - estendi os documentos para a mão de um dos policias e devolveram-mos depois de verem se estava tudo em forma. - Toma, já não vão ser precisos. - aceitei os documentos e pu-los no bolso. - E agora o que vai acontecer? - perguntei curioso por saber qual iria ser o meu futuro, talvez na prisão ou longe daquele sitio, sem Emma sem nada... - Tens sorte que por estas bandas morrem muitas pessoas, por razões que conheces... - fiquei confuso e não hesitei. - Que razões? - interroguei novamente curioso. - Vampiros, lobisomens, fadinhas... - responderam eles. O quê? vampiros? lobisomens? pensei. Como é que era possível haver aquelas criaturas? Abanei a cabeça pois não acreditava no que me contaram. Quando ainda estava a ingerir tudo aquilo, o enfermeiro da ambulância veio ter comigo. - Lamento...Mas não conseguimos salvá-la - lamentou o enfermeiro. - O quê? Está a falar a sério? - andei para a frente e para trás com as mãos na cabeça. E agora? O que vou fazer? pensei para mim. - Vai para casa rapaz que depois telefonamos-te. - disseram. - Não...não posso deixar a pessoa sozinha.. - abanei a cabeça. - Ouve rapaz, a pessoa morreu. Calma que tudo se vai resolver. Tu ainda és novo, descansa. - aconselharam eles. - O...Okay - fui até ao carro e sentei-me nele durante horas enquanto via o corpo a ser transportado. Chorei cada vez mais e encostei-me no carro. Acabei por adormecer com o pensamento em Emma.

Assim que saí do sótão, resolvi ir dar um passeio. Enquanto andava pelas ruas, visualizei cada pessoa que por ali passava e observava a alegria e a felicidade de cada uma. Sentei-me num banco e fiquei simplesmente a olhar, invejando cada ser humano. Eles tinham a liberdade que quisessem. Podiam envelhecer, ter filhos, uma família. E eu?! Tirei a fotografia amachucada que tinha no bolso e sorri.

Estava novamente a dar voltas pela cidade, desta vez a pensar que estava a viver com uma vampira. Era a coisa mais estranha que me podia acontecer por isso limitei-me a convencer de que não vivia com uma vampira mas sim com a minha irmã. Sim, era isso.
As ruas estavam quase vazias, à excepção de uma pessoa ou duas. Entre elas consegui distinguir a vampira loira que tinha visto no outro dia. Só a minha sorte, pensei...

Desviei o meu olhar para outro local, fixando-me naquele rapaz do outro dia. Arqueei a sobrancelha e resolvi afastar toda aquela mágoa que me preenchia e me divertir um pouco, voltando ao meu estado parvo. - Então, já te decidiste como é que me vais pedir desculpa?! - gritei para que ele no outro lado me ouvisse.

E ainda por cima reparou em mim... Bem, já que era assim mais valia divertir-me um pouco novamente. Assumi novamente a posição de Hunter, o caçador de vampiros. Caminhei até ao outro lado, para mais perto dela - Desculpa, estavas a dizer isso para mim? - Fingi-me de surpreendido.

- Não te faças de desentendido! - resmunguei pouco paciente. - Que te custa pedires-me desculpa?! - guardei a foto no meu bolso e apontei para o banco. - Não te queres sentar? Eu não mordo, sabes.. - ri-me.

Quase que me ri, quase... - Custa-me pedir desculpa, sim. Tratei-te exatamente como trato os outros da tua espécie e se fosse pedir desculpa a todos... - Pensei bem, e era um numero muito elevado - não fazia mais nada então. E estou bem assim, e tu realmente mordes.

- Pedir desculpa não custa nada! - cruzei os braços ao peito e olhei-o. - Há uma grande diferença entre mim e entre os da minha espécie: não bebo sangue humano e não sou tão má e arrogante, quanto pareço. - peguei no seu braço e puxei-o para o meu lado. - Não gosto de ver pessoas levantadas, enquanto eu estou sentada!

- A mim custa, por isso não fiques à espera que te peça desculpa - Disse aquilo convicto, crizando os braços ao peito. Voltei novamente a pensar que ela era uma vampira estranha, muito diferente das que estava habituado - Claro que bebes sangue se não já estavas feita em pó! - Resmunguei alto por ela me ter forçado a sentar-me - E o que é que eu tenho haver com isso?! Achas que me importo se não me gosats de ver em pé... - A minha arrogância estava on fire novamente

- Teimoso! Fica tu sabendo, que vais sim pedir-me desculpas, nem que eu tenha que te obrigar!- falei aquilo num tom de brincadeira, mas queria que ele levasse a sério. - Ouviste-me dizer que eu não bebia sangue?! Vai masé limpar os ouvidos pha! - dei-lhe uma cotovelada no braço. O mesmo tique de sempre, pensei. - E vais-me tu dizer, o que é que eu tenho a ver com o que tu te importas ou não? - respondi-lhe na mesma moeda e sorri.

- Tenta só e vais perceber que isso é impossível - Realmente não queria acreditar que ela não bebesse sangue humano, irrita-me perceber que ela dizia a verdade - Então bebes de qual, dos estúpidos gatos que vocês parem gostar de coleccionar? - Ri-me com arrogância - Não tens absolutamente nada, porque se tivesses já estavas morta, de vez.

- Nada é impossível! - avisei-o, convicta do que dizia. - Eu não gosto de coleccionar gatos. Mas sim, bebo sangue desse tipo de animal. - fingi-me de assustada. - Oh que medo! Deixa-me fugir. - gozei. - Vê-se amansas! És muito arrogante. Isso só te faz mal pha!

Revirei os olhos - Acredita que tinhas de ser muito persistente - encolhi os ombros - Bem me parecia, mas como não tenho maneira de saber se isso é verdade, vou continuar a ter-te sob vista - Descruzei os braços do epito e olhei diretamente para ela - Não me faz mal nenhum, aliás até me deixa bastante satisfeito. Sendo arrotante não tenho tantas pessoas a chatear-me - Tentei soar conviventez, e o que eu acabara de dizer nem era de todo mentiras mas claro que não gostava de ser frio e arrogante.

- Acredita, eu sou muito persistente. - sorri e tirei do bolso a fotografia, mostrando-lha. - Posso-te garantir que eles são a prova, que nunca bebi sangue humano.. - fiz uma careta. - As pessoas chateiam-te porque és arrogante! Pelo menos, eu chateio-te porque és arrogante e não me pedes desculpas! - Coisa que vai mudar, falei comigo mesma.